Conheça as suas vantagens, assim como os cuidados a ter na aquisição de uma viatura com estas caraterísticas. E, atenção ao estado da bateria!
Os veículos elétricos têm vindo a conquistar uma fatia cada vez maior no mercado automóvel, batendo recordes sucessivos de vendas. No último trimestre de 2019 já representaram 4,4% das vendas no mercado europeu.
O aumento da oferta e da própria autonomia, assim como os incentivos concedidos para a aquisição deste tipo de viaturas explicam o crescimento nas vendas, ao que se junta os baixos custos de utilização, não só em termos de energia, mas também de manutenção.
Porta de entrada na mobilidade elétrica?
Como reflexo deste crescimento nas vendas, a oferta de veículos elétricos semi-novos e usados também tem vindo a aumentar, sendo possível adquirir viaturas por valores bastante interessantes. Por exemplo, um Renault ZOE LIfe/ZEN de 2006, com 30.000 km e bateria de 22 kWh, pode ser adquirido por um valor a partir de 10.500 euros (com aluguer de bateria).
Mas será que vale a pena adquirir um veículo elétrico usado? Carlos Jesus, gerente da ZEEV, empresa especializada na oferta de soluções de energia renovável e de mobilidade elétrica, considera que poderá ser a porta de entrada na mobilidade elétrica.
"Para quem nunca teve a experiência com um veículo elétrico, a aposta num usado pode constituir uma alternativa interessante para saber se esta solução cumpre os seus objetivos, com um investimento menor, já que a diferença de preço é considerável para uma viatura nova".
Ao contrário dos veículos elétricos novos, os usados não beneficiam do incentivo fiscal de 3000 euros, com um limite máximo no custo total de aquisição de 62.500 euros, atribuído pelo Estado português através do Fundo Ambiental. Todavia, usufruem da isenção de pagamento nas zonas de duração limitada nos lugares tarifados em algumas cidades, caso, por exemplo, de Lisboa, sendo necessário adquirir o "Dístico Verde" pelo valor de 12 euros e validade máxima de um ano.
Duração e autonomia
Quando se fala num veículo elétrico, especialmente se este for usado, coloca-se de imediato a questão não só da autonomia da bateria, mas, também, a sua duração. Neste último caso, a abordagem deve ser efetuada em duas vertentes: quanto quilómetros pode percorrer ou quanto tempo pode durar? A resposta não é fácil porque existem demasiadas variáveis que alteram por completo a resposta.
A duração em quilómetros depende, acima de tudo, do próprio veículo. Cada fabricante oferece uma determinada capacidade da bateria que permitirá ao veículo percorrer um determinado número de quilómetros. O próprio consumo de energia também influencia seu raio de ação entre carregamentos: um BMW i3 94 Ah (170 cv) com bateria de 33,2 kWh anuncia uma autonomia entre 290 km e 300 km (NEDC), enquanto um Nissan LEAF (150 cv) com bateria de 40 kWh consegue percorrer até 380 quilómetros (NEDC).
Além da capacidade de armazenamento da bateria existem outros elementos externos que a afetam. Um deles é o estilo de condução. Quanto maior a agressividade, maior o consumo. A condução em ambiente urbano também se traduz num maior gasto de energia, mas, por outro lado, também se consegue recuperar nas travagens e desacelerações, graças ao sistema de regeneração da energia cinética.
O consumo de energia também é maior maior quando se circula a velocidades mais elevadas, designadamente em auto-estrada. As condições meteorológicas também influenciam a duração da bateria. O tempo frio afeta negativamente a capacidade de carga, diminuindo o número de quilómetros que é possível percorrer. A utilização dos sistemas de climatização reduz a autonomia.
Desgaste da bateria
Como sucede com qualquer tipo de bateria, esta vai perdendo a sua capacidade em função da utilização e do período de vida. De acordo com alguns estudos, a redução da capacidade útil é de aproximadamente 8% após 150 mil quilómetros. Isto significa que a autonomia de um BMW i3 com bateria de 33,2 kWh diminui de 300 km por carregamento em novo para cerca de 276 quilómetros aos 150 mil quilómetros.
Segundo a maioria dos fabricantes, uma bateria pode suportar até 3000 ciclos de carga e descarga, isto é, cargas e descargas completas. Para aumentar a sua fiabilidade, as baterias nunca devem ser totalmente descarregadas, nem devem ser totalmente carregadas.
Na aquisição de um veículo elétrico usado, o interessado deverá averiguar o estado da bateria, designadamente a sua capacidade real e confirmar se forem efetuadas intervenções de acordo com os planos de assistência da marca.
Se o prazo de garantia da bateria já tiver sido ultrapassado e esta apresentar uma diminuição na sua capacidade, é possível proceder à reparação de alguns módulos, operação essa que representa uma fração do custo necessário numa bateria nova.
Enquanto a factura de uma bateria nova poderá apresentar valores entre 3000 euros e 4000 euros, a reparação de apenas os módulos danificados poderá custar entre 500 a 600 euros.
Carregamento
Na aquisição de um veículo elétrico usado – tal como num novo – o interessado deverá avaliar se dispõe de condições e/ou infraestrutura para o carregamento da bateria. Esta última pode receber cargas lentas ou rápidas. Numa tomada doméstica de 3 kW, um Nissan LEAF de 40 kW demora cerca de 16 horas a carregar totalmente a bateria. Numa Wallbox com potência de 6 kW, o tempo necessário diminui para metade.
Os carregamentos associados a postos rápidos permitem recuperar 80% da capacidade da bateria em apenas 40 minutos num Nissan LEAF. Todavia, o abuso das cargas rápidas prejudica a vida útil da bateria. Será de referir que em caso de uso profissional intensivo com cargas rápidas, a garantia da marca não cobre a perda da sua capacidade.
Manutenção
Os baixos custos de manutenção são uma das principais vantagens vantagens porque existem poucos componentes mecânicos no seu sistema de propulsão. Os motores elétricos, por sua vez, são simples e fiáveis. Na realidade, sistema mais complexo de um veículo elétrico é o da bateria.
Como em todos os veículos, um elétrico também tem de cumprir o plano de intervenção estipulado pela marca. O custo na oficina, porém, é bastante inferior. Ao longo de dez anos, as revisões de um Nissan LEAF têm um valor estimado de 3200 euros contra os dez mil euros num veículo de combustão.
Entre os principais elementos que exigem uma maior atenção destaque para o sistema de refrigeração (mudança do óleo de refrigeração). As pastilhas e os discos oferecem uma maior vida útil do que num veículo de combustão, uma vez que o sistema de regeneração não recorre aos travões de serviço. Estes últimos utilizados essencialmente para manter o veículo imobilizado ou em travagens fortes.