Exportação de componentes para automóveis cai no primeiro trimestre

6 months, 2 weeks atrás - 18 Maio 2025, razaoautomovel
Exportação de componentes para automóveis cai no primeiro trimestre
A exportação de componentes para automóveis registou uma descida no primeiro trimestre do ano. Ainda assim, nem tudo são más notícias.

O início deste ano não foi um período particularmente próspero em termos de exportações na indústria nacional de componentes para automóveis.

Os dados disponibilizados pela Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) mostram que as exportações nacionais de componentes relacionados com a área automóvel no primeiro trimestre deste ano registaram uma descida de 1,4% — quando comparadas com as do mesmo período em 2024 — tendo atingido os três mil milhões de euros.

Contudo, enquanto o valor acumulado dos primeiros três meses demonstra uma queda, o mês de março por si só, revela um crescimento de 2,1%, tendo o setor de componentes para automóveis exportado mais de mil milhões de euros.

“Esta taxa de crescimento é superior ao crescimento do volume de produção de veículos na União Europeia e no Reino Unido, o que significa que, para além da indústria estar a entregar componentes para os veículos mais fabricados, também se verifica a entrada em novos projetos”, pode ler-se em comunicado.

Além disso, não é de descurar o peso das exportações da indústria de componentes no contexto geral: 14,3% do total das exportações nacionais de bens transacionáveis foram de componentes para automóveis.

Para onde vão os componentes produzidos em Portugal?

O principal destino destes componentes continua a ser o continente europeu, concentrando 88,5% das vendas realizadas em 2024. Ainda assim, com uma descida de 1,5% face ao mesmo período no ano anterior.

Em termos de países, Espanha continua a ser a principal compradora de componentes para automóveis produzidos em Portugal, com uma quota de 29,1%, seguida pela Alemanha (21,6%) e por França (8,5%).

Fora da Europa, os Estados Unidos da América conquistaram uma quota de 5,8%, enquanto Marrocos alcançou um valor de 2,7%, neste caso, representando um aumento expressivo de 39,9%.

“É necessário estar a par dos esforços de investimento que os países concorrentes estão a fazer, para poderem ganhar vantagem competitiva e inserirem esta indústria no processo de reindustrialização”, realça José Couto, presidente da AFIA.

Durante um encontro com vários membros da imprensa internacional em Barcelona, onde estivemos presentes, o diretor-executivo da Kia, Ho Sung Song, partilhou a visão da marca para os próximos anos e os desafios da transição elétrica.

Ho Sung Song está à frente da Kia desde 2020, depois de ter ocupado diversas posições de destaque na marca sul-coreana — incluindo a liderança da operação europeia. Desde então, tem sido o rosto da transformação da marca, colocando a eletrificação no centro da estratégia.

Apesar de os elétricos representarem hoje uma fatia relativamente pequena do volume global da Kia — 201 mil unidades em 2024, num total de 3,1 milhões —, os planos para o futuro são tudo menos tímidos.

A marca quer vender 1,6 milhões de veículos 100% elétricos até 2030, o equivalente a cerca de 30% do seu volume projetado para esse ano. Em 2025, a gama elétrica deverá incluir seis modelos de passageiros e 11 comerciais.

O anúncio de novos modelos elétricos deixa a Kia numa posição mais favorável neste mercado?

Ho Sung Son: Com o EV4 e o EV2 o objetivo é completar a nossa gama de automóveis elétricos. No caso do primeiro, vamos apresentá-lo com carroçarias de dois e três volumes, que ainda não tínhamos neste segmento (C, o dos familiares compactos). No caso do EV2 passamos a ter uma proposta de um automóvel citadino e compacto, com um preço de entrada de 30 mil euros.

Por outro lado, a gama PV5 vem transformar o segmento dos comerciais ligeiros através de uma série de soluções altamente personalizadas para uma diversa gama de requisitos.

“O EV2, que será produzido na Eslováquia, tem potencial para vender mais de 100 mil unidades anualmente, o que representa um grande salto em relação aos números alcançados até agora.”

Ho Sung Song, CEO da Kia

O mercado europeu de automóveis elétricos não está a crescer como previsto e há cada vez mais marcas a entrar. Como irá a Kia conseguir aumentar as vendas e quota de mercado neste contexto?

HSS: Ainda existe alguma hesitação do consumidor em relação à compra de carro elétrico, sim, mas penso que o investimento que está a ser feito pela maior parte dos fabricantes irá, inevitavelmente, promover esse crescimento.

As estimativas mais recentes apontam para que, até 2030, o mercado global de automóveis elétricos atinja cerca de 29 milhões de unidades, o que representará cerca de 1/3 do mercado global total. Acreditamos que vai acontecer uma evolução semelhante na Europa.

No nosso caso, começámos pelos segmentos mais altos, com modelos como o EV6 e o EV9. Agora, com a chegada de modelos mais compactos e acessíveis é natural que os volumes de vendas aumentem consideravelmente. O EV2, que será produzido na Eslováquia, tem potencial para vender mais de 100 mil unidades anualmente, o que representa um grande salto em relação aos números alcançados até agora.

Em 2030, acho que cerca de 30% das nossas vendas serão carros elétricos, já incluindo os modelos derivados da plataforma do PV5. O EV4, por exemplo, deverá ter um volume global de cerca de 160 mil unidades, com 80 mil destinadas à Europa, 50 mil à América do Norte e 30 mil ao mercado doméstico, na Coreia do Sul. O EV4 de dois volumes será produzido na Europa e a berlina de três volumes na Coreia do Sul.

Olhando para as vendas globais da Kia em 2024, apresentou uma posição sólida com números equilibrados entre os EUA (800 mil un.), Europa (500 mil un.) e Coreia do Sul (também cerca de 500 mil un.). Mas o que se passou com a China onde registou quedas na produção, quota de mercado e vendas. Porque é que é tão difícil para as marcas coreanas terem sucesso na China?

HSS: É cada vez mais difícil lidar com o crescimento das marcas domésticas que estão a «roubar» mercado a todas as marcas estrangeiras e nós não somos exceção. É uma questão cultural e conjuntural.

Vendemos 80 mil carros na China em 2024 (NDR: menos 5,3% do que em 2023 e muito abaixo das 650 mil unidades do seu melhor ano de sempre, em 2016). Contudo, usámos a produção feita na China para exportar (NDR: 141 mil carros para mercados emergentes, nomeadamente 54 mil para o Médio Oriente e 47 mil para a América Latina).

Este movimento permitiu-nos aumentar a produção local e as vendas em mais de 50% em comparação com o ano anterior, o que resultou em lucros na nossa operação na China, algo que não acontecia nos últimos oito anos.

O segmento dos comerciais ligeiros é praticamente desconhecido para a Kia e agora querem ser líderes nesse negócio na Europa. Não é uma aposta de risco?

HSS: Não creio. O plano de produto é muito ambicioso, mas também sólido. Com a mesma plataforma iremos fazer nada menos do que 11 veículos distintos até 2026.

Tenho acompanhado o mercado europeu de comerciais ligeiros há 15 anos e vejo um grande potencial nesse segmento. O mercado total na Europa é de cerca de quatro milhões de unidades e estimamos que, em 2030, 1,2 milhões dessas vendas serão de modelos elétricos. Acreditamos que agora é o momento certo para entrar nesse mercado, especialmente com a propulsão elétrica, que representa uma grande oportunidade.

Por outro lado, a introdução em simultâneo de novos sistemas de hardware e software dá-nos uma oportunidade única para alterar profundamente o sistema de produção de veículo.

Atualmente, as linhas de montagem são limitadas, pois os veículos avançam através de uma série de estações, o que restringe a variedade de modelos que podem ser montados em cada linha. Com o sistema que vamos estrear na nova fábrica na Coreia do Sul, poderemos ter 10 ou até 20 diferentes veículos na linha de montagem. Será um novo paradigma na indústria.

A nova plataforma PBV foi desenvolvida para comerciais ligeiros. Há planos para que esta base possa ser utilizada também em automóveis de passageiros?

HSS: A plataforma PBV foi desenvolvida especificamente para os nossos veículos comerciais ligeiros. É uma base pensada para modelos de maiores dimensões, com interiores amplos, funcionais e altamente versáteis.

O objetivo foi criar uma «prancha» comum (chassis tipo skate) que permitisse adaptar facilmente diferentes tipos de carroçarias e habitáculos, conforme as necessidades de cada cliente ou aplicação.

Os vossos modelos de topo, EV6 e EV9, têm sistemas de 800 V, os novos modelos mais compactos e acessíveis terão sistemas de 400 V. Claro que a diferença de custo não permite ainda que os segundos usem a tecnologia dos primeiros. Estamos longe de que isso possa acontecer?

HSS: Os nossos clientes que compraram os EV6 e EV9 eram os early-adopters e empresas com maior poder de compra. Atualmente, com o EV4, EV3, EV2 e também os PBV estamos a chegar a outro tipo de cliente, muitos deles particulares, que carregam frequentemente os carros em casa, como se fosse um telemóvel.

Além disto, as baterias mais pequenas demoram menos tempo a carregar. É uma escolha racional. Posto isto, sim, ainda vai demorar algum tempo a que os 800 V sejam o padrão na indústria, se é que alguma vez vai ser.

Qual é a resposta da Kia para os clientes que não conseguem chegar aos 30 mil euros e que apenas podem despender entre 2025 mil euros por um automóvel novo elétrico? Vai haver um EV1, como a Hyundai tem o Inster?

HSS: Estamos naturalmente a estudar essa faixa de mercado e talvez em breve, dentro de dois anos, possamos dar uma resposta mais concreta a essa questão…

Como avalia a concorrência das marcas chinesas que estão a dominar vários segmentos em vários países?

HSS: As marcas chinesas são concorrentes muito fortes e estão, sem dúvida, a ter um impacto crescente no mercado global. Na América do Sul, por exemplo, já representam cerca de 30% da quota de mercado em alguns países, e algo semelhante está a acontecer em vários mercados do Médio Oriente.

A nossa presença nesses mercados ainda não está a ser fortemente afetada — aliás, temos vindo a crescer. Não conseguimos competir diretamente em termos de preços, que são, em média, mais de 20% inferiores aos nossos, por isso temos que continuar a ter melhor qualidade geral, melhor serviço de pós-venda e e uma experiência de cliente mais completa.

Caso a Kia não consiga cumprir as normas de emissões (UE) até 2027, coloca a hipótese de pagar multas pelas emissões excessivas, reduzir a produção de veículos a combustão ou uma mistura das duas soluções?

HSS: Nunca coloquei a possibilidade de reduzir a produção de motores de combustão porque isso teria desvantagens claras na satisfação dos nossos clientes e é algo que não podemos fazer.

A solução passa, forçosamente, por aumentar a quota de elétricos nas nossas vendas. A estratégia é essa até porque não estamos longe dos limites de emissões de CO2 e vamos agora lançar modelos elétricos mais acessíveis, o que nos dá confiança que as vamos conseguir cumprir. Caso contrário, não teremos outra hipótese se não a de pagar as multas.

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