Passaram quase quatro meses sobre o incêndio ocorrido a 16 de agosto no parque de estacionamento de superfície no Prior Velho (município de Loures), perto do Aeroporto de Lisboa, que destruiu mais de 200 carros.
O relatório de peritagem do incêndio, realizado pelo Centro Pericial de Acidentes do INEGI (Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial) está concluído e a SÁBADO teve acesso exclusivo.
Este relatório dá a conhecer a origem do incêndio, iliba a empresa que recolhia e guardava os veículos dos passageiros do aeroporto que ali os deixavam antes de seguir viagem, e aponta falhas à atuação dos bombeiros.
O que causou o incêndio?
Ao contrário de alguns rumores iniciais, a origem do incêndio não foi num carro elétrico. De acordo com a SÁBADO, o relatório de peritagem conclui que o incêndio teve início num modelo da Mercedes-Benz, com 446 950 km registados no odómetro.
O relatório não dá certezas absolutas do porquê deste carro ter incendiado, mas a análise detalhada do compartimento do motor, coloca uma falha do relé do motor de arranque como o principal suspeito.
Ficou-se também a saber agora que o proprietário do veículo não cedeu a chave quando o armazenou, o que tornou impossível a remoção do veículo da rampa do parque de estacionamento, contribuindo para a sua propagação.
Segundo o mesmo relatório, outro fator para a rápida propagação do incêndio foram as condições meteorológicas desse dia em particular, que foi o mais quente do mês. Registavam-se aproximadamente 38 ºC no início do incêndio (17h58) e a humidade era de apenas 20%.
Segundo a SÁBADO, pode-se ler no relatório que “estes fatores contribuíram arduamente para o pré-aquecimento dos veículos, facilitando a propagação das chamas”. A temperatura do incêndio chegou a atingir os 600 ºC.
Falhas na atuação dos bombeiros
O relatório de peritagem sobre o incêndio no Prior Velho aponta ainda várias falhas à atuação dos bombeiros, o que pode ter contribuído para a dimensão dos estragos: 232 viaturas afetadas, das quais 117 viaturas foram dadas como perdas totais. As indemnizações ultrapassam os 3,6 milhões de euros.
Segundo o relatório, a estratégia de combate ao incêndio, que “consistiu na projeção de água em direção às chamas”, “não foi a mais eficaz, uma vez que a água teve um efeito contrário ao desejado, projetando as chamas”.
Chega mesmo a ser sugerida uma estratégia alternativa, de bombear água por cima dos veículos ainda não afetados para baixar a sua temperatura e diminuir a probabilidade de entrarem em combustão.
No relatório que a SÁBADO teve acesso é também mencionada a distância lateral entre veículos. O relatório de ocorrência dos Bombeiros Voluntários de Sacavém indicava que o espaço entre viaturas era inferior a 30 cm, o que dificultou a passagem de linhas de mangueiras.
Segundo avança a SÁBADO, o relatório de peritagem desmente o relatório dos bombeiros, concluindo que foram verificadas distâncias sempre superiores a 30 cm, sendo na sua maioria superiores a 50 cm, dando espaço não só para a passagem do equipamento de combate ao incêndio, como também para as pessoas poderem sair ou entrar nos seus veículos.
Outro tópico refere-se ao bloqueio da rampa de acesso do parque de estacionamento, que impediu que fossem retirados mais automóveis. Apesar de haver carros na rampa, o relatório afirma que o bloqueio poderia ter sido evitado, caso o último veículo de combate ao incêndio tivesse efetuado um ligeiro recuo.
O documento diz, por fim, que foram usados 126 litros de agente extintor no incêndio do Prior Velho, mas ao não saberem o total de água bombeada, põe em causa a sua eficácia: “caso tenham sido bombeados mais de 3897 litros de água, a concentração de agente extintor na mistura era ineficaz no combate ao incêndio”.
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